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Os últimos pedreiros do xistoque desenha a paisagem da região

26/04/2007
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Eduardo Pinto,
Jornal de Notícias

Uma tarde quente do mês das 'águas mil'. Júlio Pinto, 63 anos, bate com mestria o martelo contra uma pedra de xisto. Parte-a em dois pedaços, para preencher falhas no muro que anda a construir, na Quinta das Carvalhas, em S. João da Pesqueira. Um par de metros atrás, José Maria Pereira, 56 anos, dá mais uns retoques no topo da nova parede de pedra seca. São dois dos últimos pedreiros do Douro, os derradeiros trabalhadores do xisto.

Os 'artistas' são funcionários da Real Companhia Velha, empresa que aposta na recuperação dos velhos muros nas suas quintas. Há trabalho todo o ano. Para eles e para mais três. Os tradicionais suportes dos socalcos, as 'rugas do Douro', na voz do chefe de projecto da Estrutura de Missão do Douro, Ricardo Magalhães, são, afinal, um dos pilares do estatuto de património mundial atribuído pela UNESCO em 2001. Para o preservar, urge manter as características da região, apesar de esbarrar na procura de rentabilidade dos viticultores.

'As vinhas sem muros ficam feias e criam mais erva', observa José Maria, enquanto Júlio pensa ser inevitável o desaparecimento dos socalcos de xisto. O muro que constroem foge à fisionomia dos antigos, por ter pedras maiores. 'Desde que sejam bem feitos, a resistência é a mesma', atesta. Mas faz diferença no que o trabalho rende. 'Assim, com a ajuda das máquinas e se a pedra for boa, fazemos cerca de cinco metros por dia'.

Júlio Pinto vive em Loureiro, Régua. Tornou-se pedreiro com 11 anos, quando acabou a escola primária. 'Para quem sabe trabalhar, é a mesma coisa. Não basta pôr pedra sobre pedra... isso qualquer faz. O que conta é traçá-la. Uma comprida a travar duas mais pequenas. Se não ficar bem travada, quando chove, a parede cai e isto é para durar umas dezenas de anos', diz.

Quando se iniciou na arte, não havia máquinas. 'Era tudo à mão'. Por isso é que os muros tinham pedra mais pequena. 'Se tivéssemos de colocar estes calhaus à mão, como é que conseguíamos? E se fosse um rebo daqueles, veja lá!' Apontava para uma grande rocha que não deveria pesar menos de 500 quilos.

José Maria vive em Presandães, Alijó. Desde os 15 anos que faz 'tudo o que seja construção'. O pai já era pedreiro e ele não degenerou. O problema, concordam, é que já não há quem queira trabalhar na arte. Sim, porque não constrói um muro de xisto quem quer, mas quem aprende. 'Isto agora ardeu. Lá na minha terra, havia tanto pedreiro e agora, em actividade, só eu', lamenta-se Júlio. No fundo, admira-se, pois há saída no Douro para esta profissão. É dura, claro. E cansa. Se Júlio não trabalhasse a tempo inteiro na quinta, teria muito para onde se virar. 'Não falta quem vá ter comigo e até para ganhar muito mais do que ganho aqui. Agora, não é com 63 anos que merece a pena andar a mudar', sorri.